Você sabia que existe uma planta capaz de dilatar seus olhos, aliviar dores — e até matar? Estamos falando da beladona (Atropa belladonna), uma das plantas mais fascinantes (e, ao mesmo tempo, perigosas) da natureza. Usada desde a antiguidade por curandeiros, feiticeiras e farmacêuticos, ela carrega uma dualidade intrigante: entre o veneno e o remédio.
Neste artigo, você vai entender:
- O que é a beladona e onde ela cresce
- Por que essa planta é considerada tão tóxica
- Seus efeitos no corpo humano
- Aplicações medicinais (e perigosas)
- Como manter sua família protegida
O que é a beladona?
A beladona é uma planta originária da Europa, norte da África e oeste da Ásia, muito comum em florestas sombreadas. No Brasil, a beladona não é tão comum na natureza, mas pode ser cultivada em jardins, hortas medicinais ou até em estufas, pois seu cultivo exige condições climáticas específicas, como temperaturas mais amenas. Seu nome científico, Atropa belladonna, remete à deusa grega Átropos, que cortava o fio da vida — uma alusão direta à toxicidade da planta.
Com folhas verdes ovais, flores roxas e frutos escuros parecidos com cerejas, a beladona é uma planta que atrai pela beleza. No entanto, sua aparência pode enganar: todas as partes da planta são altamente tóxicas, especialmente as raízes e os frutos.
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Por que a beladona é tóxica?
A beladona (Atropa belladonna) é uma planta bem conhecida por conter substâncias chamadas alcaloides tropânicos, sendo os principais atropina, escopolamina e hiosciamina. Essas substâncias, por sua vez, exercem um efeito direto no sistema nervoso parassimpático, o qual integra o sistema nervoso autônomo. Este, por sua vez, é responsável por controlar funções involuntárias do corpo, como a digestão, a respiração e a frequência cardíaca.
Esses alcaloides atuam bloqueando a ação da acetilcolina, que é um neurotransmissor essencial para a comunicação entre os nervos e os músculos. Quando a acetilcolina não pode agir normalmente, várias funções do corpo são afetadas. Os efeitos podem variar dependendo da quantidade ingerida da planta e da sensibilidade do organismo, mas, em geral, a ação da beladona pode causar:
Dilatação das pupilas (midríase): A acetilcolina, normalmente, ajuda a controlar a contração da pupila. No entanto, sem a ação dessa substância, as pupilas permanecem dilatadas, o que se torna uma característica bem conhecida do envenenamento por beladona.
Alucinações: A alteração na transmissão nervosa pode afetar o cérebro, levando a confusão mental e, em casos mais graves, ocasionando até alucinações visuais ou auditivas.
Paralisia: A inibição da acetilcolina pode afetar os músculos, levando a uma paralisia, especialmente dos músculos envolvidos na respiração e na deglutição.
Morte: Em doses elevadas, a beladona pode ser fatal, já que o bloqueio do sistema nervoso pode afetar funções vitais, como a respiração, levando à morte por asfixia ou falência dos órgãos.
Por esses motivos, a beladona é uma planta altamente tóxica e nunca deve ser ingerida sem acompanhamento médico. Ela foi utilizada historicamente em alguns medicamentos e até em venenos, mas seu uso é extremamente perigoso devido à dificuldade de dosagem segura.
Sintomas de intoxicação por beladona
Ao entrar em contato com o organismo, os compostos tóxicos da beladona provocam uma série de sintomas, que podem variar em intensidade. Inicialmente, pode-se observar boca seca, acompanhada de dificuldade para engolir. Além disso, as pupilas dilatadas são um sinal claro, o que também resulta em uma sensibilidade à luz.
Com o agravamento da intoxicação, os sintomas tornam-se mais severos, incluindo batimentos cardíacos acelerados e confusão mental, que pode evoluir para delírios. Em um estágio ainda mais avançado, o indivíduo pode experimentar alucinações visuais e auditivas. Outros sinais importantes são febre intensa e até convulsões.
Em casos mais graves, a situação pode evoluir rapidamente para um quadro crítico, com coma ou até mesmo parada respiratória, o que torna o tratamento médico urgente.
Desse modo, a intoxicação é uma emergência médica. Se suspeitar de exposição, procure atendimento imediatamente.
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Beladona como remédio: uso com responsabilidade
Apesar de sua toxicidade, a beladona possui usos medicinais importantes. Seus derivados são utilizados — sempre com controle rigoroso — na indústria farmacêutica para:
- Tratar cólicas intestinais e problemas urinários
- Reduzir secreções antes de cirurgias
- Controlar sintomas da doença de Parkinson
- Produzir colírios que dilatam as pupilas em exames oftalmológicos
A atropina, por exemplo, serve como antídoto contra envenenamentos por inseticidas organofosforados. No entanto, qualquer uso terapêutico da beladona deve ser feito com prescrição médica.
Curiosidades históricas
Na Idade Média, feiticeiras e bruxas usavam a beladona em poções e unguentos alucinógenos. Além disso, mulheres italianas aplicavam colírios feitos com a planta para dilatar os olhos, o que era considerado sensual. Daí surgiu o nome ‘bella donna’ (‘mulher bonita’ em italiano). A planta também apareceu em relatos de envenenamento político, inclusive na Roma Antiga.
Como se proteger
Se você vive em regiões onde a beladona pode crescer espontaneamente, atenção redobrada:
- Ensine crianças a não colher ou comer frutinhas desconhecidas.
- Evite plantar espécies tóxicas no jardim, especialmente se há animais domésticos.
- Use luvas ao lidar com ervas desconhecidas.
- Em caso de contato acidental, lave a área com água e sabão e procure orientação médica.
A beladona é uma planta tão atraente quanto perigosa. Seu uso seguro, portanto, depende de conhecimento, respeito e cuidado. Seja como fonte de compostos terapêuticos ou como alerta sobre os perigos das plantas tóxicas, ela nos ensina que nem tudo o que é bonito é inofensivo.
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