Um alerta crescente ganha destaque na comunidade médica e entre especialistas em saúde pública: o “pulmão de pipoca”, doença grave associada à exposição ao diacetil — presente em alguns líquidos de cigarros eletrônicos e em ambientes industriais. Casos recentes envolvendo adolescentes reacenderam o debate sobre os perigos invisíveis da substância.
O termo “pulmão de pipoca” surgiu no início dos anos 2000, quando trabalhadores de uma fábrica de pipoca de micro-ondas nos Estados Unidos desenvolveram sintomas respiratórios severos. Um estudo publicado no New England Journal of Medicine identificou que a exposição ao diacetil — um aromatizante com sabor de manteiga — estava diretamente ligada aos casos de bronquiolite obliterante entre os funcionários da planta industrial.
Vape e os novos riscos
Embora o diacetil tenha sido removido da maioria dos alimentos, ele ainda é encontrado em alguns líquidos usados em cigarros eletrônicos. Segundo a Harvard Health Publishing, o diacetil é um dos principais suspeitos por trás da ligação entre o uso de vapes e o desenvolvimento do pulmão de pipoca. A substância é inalável quando aquecida nos dispositivos eletrônicos, o que pode causar inflamação e formação de tecido cicatricial nos bronquíolos.
Caso recente reacende debate
Recentemente, um caso ocorrido no Canadá chamou atenção internacional. Especificamente, um adolescente de 17 anos foi diagnosticado com uma condição semelhante ao pulmão de pipoca, após meses de uso intenso de vapes com sabores e THC — o ingrediente psicoativo da cannabis. Como consequência, ele passou 47 dias hospitalizado e, além disso, quase precisou de um transplante duplo de pulmão, de acordo com uma reportagem da BBC News.
De forma semelhante, o Indian Express relatou o caso de uma adolescente americana diagnosticada com bronquiolite obliterante após três anos de uso contínuo de cigarros eletrônicos. A jovem agora depende de inaladores e enfrenta possíveis consequências respiratórias permanentes.
Mas afinal, o que é pulmão de pipoca?

O pulmão de pipoca é uma condição popularmente conhecida como bronquiolite obliterante, que corresponde a uma doença rara e grave que afeta os pulmões. Especificamente, ela é caracterizada pela inflamação e consequente cicatrização das vias aéreas pequenas (bronquíolos) nos pulmões, o que, por sua vez, leva à obstrução dessas vias e, consequentemente, à dificuldade respiratória.
Além disso, os especialistas batizaram a doença de ‘pulmão de pipoca’ por causa de uma associação visual curiosa: nos exames de imagem, os pulmões afetados exibem cicatrizes e lesões que lembram uma pipoca estourando.
Quem está em risco?
Embora qualquer pessoa exposta ao diacetil corra riscos, os principais afetados — além dos usuários de cigarros eletrônicos — são aqueles que convivem com a substância em contextos de exposição prolongada.
Em primeiro lugar, destacam-se os trabalhadores da indústria de alimentos. Funcionários de fábricas de pipoca de micro-ondas ou de empresas que utilizam o diacetil em produtos alimentícios são especialmente vulneráveis, uma vez que estão sujeitos à exposição constante a altas concentrações da substância durante o processo produtivo. Essa exposição frequente, ao longo do tempo, eleva significativamente o risco de desenvolvimento da doença.
Além disso, pessoas com histórico de exposição ocupacional ou ambiental prolongada também merecem atenção. Nesse caso, não apenas as indústrias alimentícias, mas também outros setores, como o de aromatizantes, podem envolver contato direto ou indireto com o diacetil, ampliando os cenários de risco.
Sintomas do pulmão de pipoca
Os sintomas do pulmão de pipoca podem variar dependendo da gravidade da doença. Alguns dos sinais mais comuns incluem:
- Falta de ar, principalmente durante atividades físicas
- Tosse persistente
- Respiração ruidosa
- Fadiga e cansaço excessivo
- Dificuldade em respirar após exercícios leves
A doença pode evoluir lentamente, e os sintomas tendem a piorar com a exposição contínua ao diacetil. Com a progressão do quadro, os médicos podem recomendar o uso de oxigênio suplementar e, em situações mais graves, recorrer ao transplante de pulmão.
Diagnóstico do pulmão de pipoca
O diagnóstico do pulmão de pipoca (bronquiolite obliterante) pode ser desafiador, já que seus sintomas — como tosse seca persistente e falta de ar — são semelhantes aos de outras doenças respiratórias, como asma ou DPOC. Por isso, é essencial uma avaliação médica detalhada.
De acordo com a American Lung Association, o processo diagnóstico geralmente inclui:
- Histórico clínico completo, incluindo exposição a substâncias químicas como o diacetil ou uso de cigarros eletrônicos.
- Exame físico, com atenção especial à ausculta pulmonar.
- Exames de imagem, como radiografia de tórax ou tomografia computadorizada (TC), para identificar alterações nos pulmões.
- Testes de função pulmonar, que avaliam a capacidade respiratória e ajudam a detectar obstruções nas vias aéreas.
- Em alguns casos, pode ser necessária uma biópsia pulmonar para confirmar o diagnóstico e descartar outras condições.
Portanto, o diagnóstico precoce é fundamental para iniciar o tratamento e evitar a progressão da doença, que é irreversível. Caso tenha interesse, posso complementar com informações sobre os tratamentos disponíveis ou até mesmo criar um guia visual com os passos do diagnóstico.
Como o pulmão de pipoca é prevenido?
A prevenção do pulmão de pipoca concentra-se, sobretudo, na redução da exposição ao diacetil e a outras substâncias tóxicas. Nesse sentido, no caso de trabalhadores da indústria alimentícia, é altamente recomendável o uso de equipamentos de proteção individual, como máscaras respiratórias. Além disso, a adoção de práticas seguras no ambiente de trabalho torna-se essencial para limitar a inalação de vapores químicos potencialmente nocivos.
Por outro lado, para os consumidores de cigarros eletrônicos, a melhor forma de prevenção consiste em evitar o uso desses produtos, especialmente daqueles que contenham diacetil em sua composição. Ademais, a conscientização sobre os riscos associados ao uso de e-líquidos de baixa qualidade é igualmente fundamental, pois contribui para escolhas mais seguras e informadas.
Como o pulmão de pipoca é tratado?
Infelizmente, os médicos ainda não descobriram uma cura definitiva para o pulmão de pipoca. Por isso, eles focam o tratamento no alívio dos sintomas e na melhoria da qualidade de vida do paciente.
Nos estágios iniciais, por exemplo, o uso de medicamentos anti-inflamatórios e broncodilatadores pode ser indicado, pois ajudam a reduzir a falta de ar e a tosse. No entanto, à medida que a doença progride, os sintomas podem se intensificar. Nessas circunstâncias, em casos mais graves, o transplante de pulmão pode se tornar necessário, com o objetivo de preservar a vida do paciente.
Por isso, a detecção precoce é essencial. Pessoas com histórico de exposição ao diacetil ou que fazem uso de cigarros eletrônicos devem estar atentas a qualquer sinal de dificuldade respiratória e procurar atendimento médico assim que possível.
O que podemos aprender com tudo isso?
O pulmão de pipoca serve como um alerta sobre os riscos de inalar substâncias químicas, especialmente em produtos modernos como os cigarros eletrônicos. À medida que o uso do vape cresce, sobretudo entre os jovens, é essencial promover a educação sobre os perigos invisíveis envolvidos. Regulamentação rigorosa e escolhas conscientes são ferramentas cruciais para evitar doenças graves e proteger a saúde pulmonar das futuras gerações.
Referências
Harvard Health Publishing. (2020). Popcorn lung: What is it and who is at risk. Disponível em: Harvard Health
New England Journal of Medicine. (2002). Diacetyl and Popcorn Lung. Disponível em: NEJM
BBC News. (2019). Vaping and Popcorn Lung: A Rising Concern. Disponível em: BBC
Indian Express. (2023). 17-year-old diagnosed with popcorn lung after vaping. Disponível em: Indian Express