Imagine um mundo onde tudo o que você vê está em tons de cinza. Céu, árvores, roupas, alimentos… Tudo em preto, branco e uma escala infinita de cinzas entre eles. À primeira vista, pode parecer um cenário de filme antigo ou uma fotografia vintage, não é? No entanto, para algumas pessoas, essa é a única realidade visual possível. Isso porque elas vivem com uma condição rara chamada acromatopsia.
O que é acromatopsia?
A acromatopsia é uma condição genética rara que impede a percepção das cores. Quem tem essa síndrome vê o mundo em preto e branco — literalmente. É importante não confundir a acromatopsia com o daltonismo. Embora ambos estejam relacionados à percepção das cores, são condições diferentes. O daltonismo é muito mais comum e envolve dificuldade em diferenciar algumas cores específicas, como o vermelho e o verde. Já a acromatopsia é uma perda total da percepção das cores.
Um problema nos cones da retina
Para entender a acromatopsia, primeiramente é preciso compreender um pouco sobre como a visão funciona. De modo geral, nossos olhos possuem células especializadas na retina chamadas de fotorreceptores, as quais são divididas em dois tipos principais: bastonetes e cones.
- Bastonetes: funcionam melhor em ambientes com pouca luz e nos ajudam a enxergar no escuro — mas não detectam cores.
- Cones: atuam em ambientes iluminados e são responsáveis pela visão em cores.

Os cones estão divididos em três tipos, sendo que cada um é sensível a uma faixa específica de comprimento de onda da luz: azul, verde e vermelho. A combinação das informações captadas por esses três tipos de cones permite, portanto, que o cérebro crie a experiência visual colorida.
Por outro lado, na acromatopsia, os cones simplesmente não funcionam ou estão ausentes. Como consequência, a visão se limita aos bastonetes — o que significa enxergar apenas em preto, branco e tons de cinza. Além disso, pessoas com essa condição costumam enfrentar grandes dificuldades em ambientes muito iluminados.
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O que causa a acromatopsia?
A causa da acromatopsia está em mutações genéticas que afetam o funcionamento dos cones da retina. Os cones são responsáveis por captar as cores, e, na acromatopsia, eles estão ausentes ou danificados. Os genes mais comumente afetados são o CNGA3 e o CNGB3.
Essa condição é hereditária e segue um padrão autossômico recessivo. Ou seja, é preciso herdar o gene defeituoso do pai e da mãe para desenvolver a condição.
Diagnóstico e sintomas
Os sinais da acromatopsia geralmente aparecem ainda na primeira infância. Os pais costumam notar que a criança:
- Evita a luz forte;
- Move os olhos involuntariamente;
- Tem dificuldade para focar objetos.
O diagnóstico é feito com:
- Eletroretinograma (testa a resposta dos cones e bastonetes);
- Exame genético;
- Testes de visão de cores (como o de Ishihara).
Existe tratamento para acromatopsia?
Segundo a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica, infelizmente, não há cura para a acromatopsia no momento. O tratamento visa melhorar a qualidade de vida, com recursos como:
- Óculos com filtros de luz para aliviar a fotofobia;
- Lentes de contato especiais;
- Treinamento visual e acompanhamento oftalmológico.
Estudos com terapia gênica estão em andamento e mostram potencial de restaurar parcialmente a função dos cones. Essa abordagem pode oferecer uma solução futura para as novas gerações.
Como é viver sem cores?
Apesar de todos os desafios, muitas pessoas com acromatopsia desenvolvem habilidades surpreendentes para compensar a ausência de cores. Elas descrevem o mundo com mais foco nos detalhes, nas formas e na intensidade da luz.
Viver sem cores pode parecer difícil para quem enxerga normalmente, mas para quem tem acromatopsia, é simplesmente uma outra forma de ver o mundo — nem melhor, nem pior. Apenas diferente