A natureza brasileira é rica em biodiversidade, mas também abriga espécies que exigem atenção redobrada. Uma delas é a lagarta Lonomia, que pertence à família Saturniidae e é especialmente conhecida por seu potencial de causar envenenamentos graves — e, em alguns casos, até mortes — caso o tratamento não seja realizado de forma adequada. Isso se deve ao fato de que o veneno da Lonomia contém substâncias capazes de interferir diretamente na coagulação sanguínea, o que pode resultar tanto em sangramentos internos quanto externos, além de provocar, em situações mais críticas, falência de órgãos. Diante disso, reconhecer essa lagarta e, sobretudo, agir com rapidez em caso de acidente são medidas fundamentais para prevenir danos irreversíveis à saúde.
Características da lagarta Lonomia
A lagarta Lonomia é uma espécie cuja aparência revela uma impressionante estratégia de sobrevivência. Seu corpo, de coloração marrom ou verde, é coberto por espinhos ramificados que imitam galhos ou folhas, garantindo uma camuflagem quase perfeita no ambiente natural.

Com cerca de 6 a 7 centímetros de comprimento, essa lagarta apresenta comportamento gregário, ou seja, costuma formar aglomerados nos troncos das árvores durante o dia. Já à noite, por sua vez, esses grupos se deslocam para as copas em busca de alimento, alimentando-se principalmente de folhas de árvores como figueira, aroeira, eucalipto e amoreira. Além disso, essa espécie pode ser encontrada em diversas regiões do Brasil, embora seja mais frequente nas áreas Sul e Sudeste. Nesses locais, inclusive, sua presença exige atenção redobrada, tendo em vista o risco potencial que representa.
Na fase adulta, a Lonomia transforma-se em uma mariposa de aparência discreta, com asas marrons que imitam folhas secas — uma camuflagem igualmente eficaz.

Diferente da lagarta, a mariposa adulta não possui toxinas e, portanto, não representa risco direto à saúde humana. Seu ciclo de vida inclui as etapas de ovo, larva, pupa e mariposa, sendo que a fêmea pode depositar mais de cem ovos nas folhas. A fase adulta tem curta duração, geralmente entre sete e dez dias, período em que ocorre a reprodução antes da morte do inseto.
Como ocorre o envenenamento?
O perigo está nos espinhos que recobrem o corpo da lagarta, pois ao entrarem em contato com a pele humana, liberam toxinas potentes. O veneno da Lonomia interfere diretamente na coagulação sanguínea. Os sintomas incluem
- Dor intensa e sensação de queimação
- Vermelhidão e inchaço local
- Dor de cabeça, náuseas e vômitos
- Sangramentos espontâneos (gengiva, nariz, urina)
- Manchas roxas pelo corpo
Casos de envenenamento, em especial quando não tratados adequadamente, podem, com o passar do tempo, evoluir para complicações graves, tais como insuficiência hepática e, em situações mais críticas, até mesmo a morte. Além disso, estudos revelam que, entre os primeiros sinais desse quadro, estão os sangramentos espontâneos e as dificuldades respiratórias, sendo ambos indicadores importantes de alerta precoce.
O que fazer em caso de acidente com a lagarta Lonomia?
Se tiver contato com a lagarta
Se você ou alguém encostar em uma Lonomia, siga os seguintes passos:
- Evite coçar ou esfregar a área atingida.
- Lave o local com água e sabão.
- Fotografe o animal (se possível)
- Procure imediatamente um serviço de saúde.
O soro antilonômico
Desenvolvido pelo Instituto Butantan em 1996, o soro antilonômico é o único tratamento eficaz contra os efeitos sistêmicos do veneno da Lonomia. Desse modo, diante de um acidente com a lagarta, recomenda-se procurar assistência médica imediatamente para que os profissionais administrem o soro nas primeiras horas após o ocorrido, garantindo sua eficácia De acordo com estudos recentes, a demora na aplicação do soro pode resultar em danos irreversíveis e até óbito.
O SUS distribui gratuitamente o soro antilonômico, que já salvou vidas no Brasil e em países como Peru, Colômbia e Guiana Francesa.
Como se proteger?
- Evite encostar em troncos de árvores sem antes observar cuidadosamente.
- Use roupas de proteção em trilhas e áreas rurais.
- Ensine crianças sobre os perigos de mexer em lagartas.
Dados de acidentes
Conforme o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, entre 2019 e 2023, foram registrados mais de 26 mil acidentes com lagartas no Brasil, sendo que 20% envolveram crianças. A maioria dos casos ocorre no verão, quando a população de Lonomias aumenta significativamente devido às condições climáticas favoráveis à reprodução desses insetos.
Esses acidentes representam uma importante preocupação de saúde pública, especialmente em áreas rurais e próximas a regiões de mata, onde a presença dessas lagartas é mais comum. A falta de informação, o contato acidental e o manuseio imprudente contribuem para a alta incidência, principalmente entre crianças, que são mais vulneráveis e curiosas por natureza.