Você provavelmente já tomou alguma vacina e, na hora da aplicação, o profissional de saúde perguntou: “Pode ser no braço direito ou esquerdo?”. Para a maioria das pessoas, essa escolha parece não ter importância. Mas um estudo recente publicado na prestigiada revista científica Cell revelou que essa decisão pode ter impacto direto na eficácia da vacina, especialmente nas doses de reforço.
Para entender melhor o funcionamento da nossa defesa natural, os pesquisadores investigaram como o sistema imunológico “lembra” de vacinas anteriores. Além disso, os pesquisadores analisaram como reativar essa memória com mais eficiência, especialmente quando aplicam a nova dose no mesmo local da anterior. Para isso, concentraram-se nos macrófagos — células do sistema imune conhecidas por engolirem invasores e colaborarem na defesa do organismo. No entanto, o estudo revelou uma função adicional dessas células: indicar onde a resposta imunológica deve se concentrar com mais intensidade.
Entendendo a memória do nosso sistema imune
Quando tomamos uma vacina, nosso corpo aprende a reconhecer um vírus ou bactéria sem que a gente fique doente. Esse “aprendizado” é armazenado por células chamadas linfócitos B de memória. São essas células que “lembram” do invasor e sabem como reagir rapidamente se formos infectados no futuro.
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O papel dos macrófagos na resposta à vacina
Macrófagos são como os “faxineiros” e “vigias” do nosso corpo, pois engolem microrganismos perigosos e, além disso, alertam o sistema imunológico sobre possíveis ameaças. No entanto, na pesquisa, os cientistas descobriram que os macrófagos localizados nos gânglios linfáticos (linfonodos) ajudam a ativar as células B de memória no momento em que tomamos uma dose de reforço da vacina.
Por que o local da aplicação da vacina importa?
Aplicar a dose de reforço da vacina no mesmo braço da dose anterior gera uma resposta imunológica mais rápida e intensa. Isso ocorre porque as células de memória do sistema imunológico “lembram” exatamente o local onde encontraram o vírus pela primeira vez.
Por isso, ao receber a vacina no mesmo braço, o corpo ativa essas células com mais eficiência, acelerando a defesa do organismo. Em contrapartida, quando a aplicação ocorre no outro braço, a resposta tende a ser mais lenta. Nesse caso, as células precisam localizar novamente o ponto de entrada, o que exige mais tempo para iniciar a reação de defesa.
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E isso também foi confirmado em humanos
Os cientistas não ficaram apenas nos testes com animais. Para entender se esse fenômeno também acontece em pessoas, eles acompanharam voluntários que receberam doses da vacina contra a COVID-19 da Pfizer-BioNTech.
Os cientistas confirmaram: a vacinação no mesmo braço resultou em uma resposta imune mais potente. As células B de memória se ativaram mais rapidamente e produziram mais anticorpos.
O que essa descoberta muda na prática da vacinação?
Esse estudo mostra que até detalhes simples, como em qual braço tomar a vacina, podem fazer diferença. Isso pode ser útil para melhorar estratégias de vacinação, especialmente contra vírus que mudam muito, como o SARS-CoV-2 (causador da COVID-19) e a gripe.
Além disso, essa descoberta mostra algo fascinante sobre o nosso corpo: as células do sistema imune não só lembram do vírus, como também lembram de onde ele entrou no organismo. Isso reforça a ideia de que nosso sistema imunológico é incrivelmente inteligente e especializado.